Nascemos completamente imersos num universo que se desenvolve por meio de ciclos. Tudo tem um determinado princípio e segue, a partir daí, uma inexorável trilha de florescimento, amadurecimento, envelhecimento, chegando, por fim, à morte. Ou, melhor dizendo, transforma-se em alguma outra coisa. Tudo progride dessa maneira no nosso plano de existência, desde as pedras, as árvores e as flores até os relacionamentos, as carreiras e os amores. Tudo. No entanto, desde cedo fomos sendo doutrinados ao inútil e desgastante hábito de não aceitar que esses ciclos tenham o seu final. Recusamo-nos sequer a pensar em algo que se aproxime da morte. E quando falo em morte, não me refiro apenas a essa tão temida morte física do corpo, mas a qualquer tipo de disfarce que esses ciclos se utilizam para nos dizer que determinada época, por melhor que tenha sido, chegou ao seu final.
Somos seres em constante estado de aperfeiçoamento e, no mais profundo de cada um de nós, sabemos muito bem disso. Apenas o medo de encarar o desconhecido é que nos posiciona permanentemente aquém da linha divisória entre o mundo a que hoje pertencemos e a nova vida que poderíamos ter. De pé, acovardados, ali permanecemos, muitas vezes por toda a vida, alimentando um estressante estado de tensão ante qualquer tipo de abandono do passado, mesmo que as mudanças tenham o firme propósito de melhorar nossas vidas. De qualquer forma, passamos a existência tentando, buscando, errando, machucando-nos, acertando e, com tudo isso, crescendo. E qualquer crescimento tem a propriedade de nos atrelar a uma saudável instabilidade quanto ao que esperamos do futuro. No entanto, nossos medos terminam por nos colocar num interminável “presente”, temerosos por fazer as mudanças que sabemos necessárias.
A verdade é que não temos quase nenhuma ideia de como “funcionamos”, como reagimos a tudo que nos acontece. Nossa inexperiência em lidar com o emocional bem poderia fazer com que andássemos, tal os automóveis recém saídos das revendedoras, com uma placa nas costas: “Cuidado! Espírito amaciando”.
O que quero dizer com tudo isso é que as coisas do passado, por melhores que tenham sido, pertencem exclusivamente ao passado. A qualidade daquele tempo, responsável por ter trazido momentos possivelmente inesquecíveis para serem vividos, há muito já lhe pode ter dado sinais de que se foi. E só você pode ainda não ter percebido. Nenhum momento feliz vem para ficar constantemente ao seu lado. Vem, na verdade, como resultado de uma combinação de fatores pessoais e externos que, por sua vez, não são nada constantes. Esses fatores tipicamente humanos estão em contínua ebulição, transformando-se a cada minuto. Aqueles “bons e velhos tempos” quiseram tão somente pedir a você que os aproveitasse ao máximo, e não que pretendesse que jamais terminassem.
Querer que o passado retorne, com todo o seu brilho e juventude, com todas as suas possibilidades e esperanças, é desconhecer profundamente a qualidade fundamental da matéria que compõe a vida: sua capacidade de renascimento e regeneração. A mudança é a característica básica daquilo que foi feito para ser transformado.
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