De tão torpe e vingativo lhe restou a Liberação ( Por Alex )

De tão torpe e vingativo lhe restou a Liberação

Era uma casa grande com janelas compridas, tristes, silenciosas.
Cômodos gelados e mobiliados em excesso, ao mínimo de três portas entre os cômodos.
Afora se viam apenas vultos negros, assustadores de plantas e vento, típica noite de assassinato.

Fazia frio.

Andrés carregava toda sua angustia e culpa por não lembrar de meu passado, dos seus erros, e merecia estar ali para explicá-los.

Ursula e Crist eram seus apoios, cúmplices, testemunhas de seus atos passados.

Egon era a pessoa que o odiava por algo que viveram juntos no passado, e este precisava de uma explicação, uma resposta.

Estavam todos juntos em um grande corredor iluminado consertando algo pesado e comprido ...

Egon pediu a Andrés para o ajudar a carregar um grande objeto até outro cômodo, uma cozinha grande e limpa, tudo em seu devido lugar.

Os dois carregavam juntos e antes mesmo que colocassem o objeto no chão ...

Egon cobrou uma resposta, havia sangue, vingança e ódio em seus olhos. Andrés apavorou-se e na mesma hora ficou sem palavras e olhando assim para os olhos das outras pessoas que estavam aí ... ambos tinham o mesmo olhar carregado e sombrio de vingança. 

Ursula e Crist também tentaram encorajar com seus olhares, como se quisessem ajudar a Andrés.

Mas foram expulsos do lugar, ao quintal e em seguida à rua gelada e assim sumiram na escuridão, Andrés ouviu seus choros de desespero ao longe.

Os perdeu de vista e teve medo.

Não tinha mais seus olhares amigos.

Andrés largou rapidamente o objeto ao solo e foi obrigado a ir até uma grande sala, sob a mira de uma arma. Arma está que era empunhada por Egon que chorava e tremia, podendo dispará-la a qualquer momento.

Era possível saber que ele estava sob efeito de um transe e lutava contra aquilo.
As pessoas de olhos pesados cercavam a Andrés, não tinham a paciência de esperar nenhuma resposta. Queriam matar-lo.

A maior certeza de Andrés era de que o ódio destas pessoas era dez vezes maior que o que Egon sentia por ele.

Foi aí que Egon supostamente recobrou parte de sua sanidade e calmamente acendeu um cigarro.

Andrés ainda estava nervoso e sem palavras com os outros dois que o acercavam. Foi então que pediu para Egon que eles saíssem de perto, ou não iria conseguir explicar-se.

Sua ordem foi atendida e os dois de olhos vermelhos e repuxados, como vampiros deformados e sedentos, se afastaram.

Quando Andrés sentiu-se mais seguro olhou para os olhos de Egon e  pediu para acender um cigarro, tentou por três vezes, não conseguiu.

Desistiu do cigarro e olhou novamente em seus olhos ... já não havia ódio e sim um pedido de resposta, calmo, porém o quanto antes.

Andrés acreditava em sua liberação, em sua salvação, acreditando que assumiria o erro e não cometeria novamente. Havia até um pouco de esperança em seus olhos...

Egon olhou a Andrés e disse:

Porque ? Porque você fez uma vez e hoje refez tudo de novo ?

Andrés teve vontade de chorar, mas não conseguiu, e com toda a sua sinceridade, disse do fundo de sua verdade :

... Desculpe-me. Desculpe-me pelos meus erros.

Foi um diálogo curto em palavras, mas longo em sentimentos.

Em alguns instantes Andrés viu nos olhos de Egon que ele havia entendido ... entendido todos os seus atos e que tudo o que Andrés havia feito já não o incomodava mais.

Foi como se os dois juntos encontrassem a liberação, a libertação, a salvação. Neste exato momento.

...

Foi entáo que Andrés despertou como se estivesse entorpecido por algo pesado, teve vontade de chorar e não conseguiu.

Abriu os olhos no escuro por alguns instantes, sem coragem de acender a luz. Viu às horas e o relógio marcava 02h22min, e neste caso se deu conta que ele mesmo pensava em si.

Por fim teve coragem e acendeu a luz. Levantou.
Viu que na parede havia uma barata grande e asquerosa, mexendo suas antenas e não havia sentido a sua presença.

O primeiro impulso foi matá-la ... hesitou, não o fez, e foi devolvida a seu lugar, o esgoto.

Se a matasse o sonho não teria validade nenhuma.

Pensou: Chega de violência !

Náo quero novamente seguir tomando a mesma atitude de sempre, dando-me conta do agora ... e que nem sempre dá para fazer a mesma coisa. Essa foi a Sensação que teve.

Ela está viva e Eu estou liberto.

Ps.: Os nomes foram modificados.