A História de Buda

O Buda pode ser visto de diversos modos. Na crença e prática, é tradicionalmente lembrado e reverenciado como a primeira parte essencial dos três Componentes Valiosos do Budismo. Na literatura, sua vida foi romantizada no folclore e em numerosas narrativas textuais em muitas línguas, enquanto os estudos modernos em geral tentam fazer distinção entre os aspectos humanísticos e a lenda. Entretanto, há ocasiões nas quais lampejos pessoais do Buda surgem nos textos canônicos antigos.

Por conseguinte, o estudante com orientação histórica irá encarar o Buda como um ser humano, com toda a probabilidade, ou seja, como Siddharttha Gotama/ Siddhartha Gautama ou o Sakyamuni/ Shakyamuni, nascido no bosquete de Lumbini perto de Kapilavatthu/ Kapilavastu, capital da república oligárquica sakyana/ shakyana (gana, sangha), filho de Suddhodana/ Shuddhodana, chefe ou funcionário presidente (raja, e não ‘’rei’’ neste caso), que atingiu o esclarecimento (bodhi) e assim se tornou Buda, ensinou e muitos seguidores e com a idade de oitenta anos faleceu (maha-parinibbana/ parinirvana) em Kusinara/ Kushinagara, uma das duas capitais da república oligárquica vizinha Malla. Suas datas são ainda problemáticas e os theravadinos na Birmânia, Ceilão e Índia datam o Buda em 623-543 a.C. e os do Camboja, Laos e Tailândia o datam entre 624-544 a.C., daí terem sido suas comemorações de Jayanti de Buda efetuadas em maio de 1956 e maio de 1957, respectivamente. Por outro lado, os mahayanistas e a maioria dos sábios ocidentais datam o Buda, diversamente, cerca de 566-486 (a data preferível), 563-483, ou 558-478 a.C.

No uso páli (língua falada na época) e na tradição theravada o Buda passou a significar geralmente aquele que atingiu o esclarecimento; um homem superior a todos os outros seres, humanos e divinos, por seu conhecimento da verdade, um Buda.

Em seu papel de homem preeminente, um Buda é chamado Bhagava ou Senhor... A carreira típica de um Buda está exemplificada na vida de Gotama e nas lendas ligadas ao seu nascimento.

No uso sânscrito e nas tradições mahayana e vajrayana, o Buda é visto de um modo ainda mais pluralista. Um Buda é primordialmente um ser inteiramente ‘’esclarecido’’, mas os atributos característicos e qualidades de um Buda foram descritos e enumerados em diversas fórmulas definidas...

Um Buda é um ser que adquiriu os dez balas (poderes), os quatro vaiça-radyas (bases de autoconfiança) e os dezoito avenika-dharmas (atributos especiais e extraordinários).
Um Buda se distingue dos outros seres por sua profunda e grande devoção, amor, misericórdia e compaixão por todos os seres.

Um Buda é notado por sua pureza completa e sem mácula. Seus atos corporais, sua fala, seus pensamentos e sua própria alma são puros, e não existe a menor impureza nele. Devido a esta pureza quádrupla, não precisa estar em guarda contra os outros.

Um Buda que apareça nesta terra ou em qualquer outro mundo jamais poderá deixar de existir.

Os Budas não são apenas numerosos e imortais, mas também sobre-humanos em todos os seus atos, até mesmo durante suas vidas terrenas. Além disso, se um Buda é imortal e sobre-humano, seu corpo físico não pode representar sua natureza real... Se é frágil e limitado (corpo-físico) não é o Buda real, o que e quem é Buda? Em distinção quanto ao corpo-físico os mahayanistas falam de um dharma-kaya de um Buda (Corpo cósmico, espiritual) Um Buda é a corporificação de dharma, que é seu corpo verdadeiro. Também é identificado com todos os constituintes do universo (forma, pensamento, etc.).
Os Budas foram submetidos a um processo sêxtuplo de evolução: foram multiplicados, imortalizados, deificados, espiritualizados, universalizados e unificados.
O Buda foi concebido, descrito e venerado singular e pluralmente, tanto em termos humanísticos quanto metafísicos. Sendo o esclarecido, o Buda foi tradicionalmente encarado por seus seguidores como Professor ou Mestre, um Vencedor, um Grande Homem, um Senhor Abençoado e Celebrado, enquanto ele se considerava primordialmente um Tathagata (aquele que chegou, experimentou e transcendeu as imperfeições da vida).

Em aspectos variáveis, Buda foi venerado em cerimônias simples e cultos complexos, representado e simbolizado em pinturas e esculturas, e apresentado na literatura e no folclore.
Não pode haver dúvida de que o Buda histórico tenha sido um grande professor e mestre. Numerosas histórias a seu respeito no Sutta Pitaka páli exemplificam seus princípios e práticas de ensino. Até mesmo do ponto de vista da pedagogia atual, os métodos do Buda mostram-se interessantes e ainda se aplicam a muitas situações.

O método perspicaz de pregação adotado por Buda, combinado com a dialética, mais destaque conferido à ética do que a filosofia, o espírito de boa vontade e amor, adoção de dialetos populares como meio de instrução e o cuidado individual tomado com os discípulos, também concorreram muito para o êxito da religião.
Nos textos budistas não há palavra que possa ser atribuída, com absoluta autoridade, a Gautama Sakyamuni. Temos apenas uma vaga idéia da imagem iluminada de sua personalidade e já é o suficiente para sermos dominados por uma atmosfera espiritual singular. Embora a Índia de seu tempo, meio milênio a.C., fosse um genuíno tesouro de saber religioso e mágico – a nossos olhos, uma selva de crenças e tradições mitológicas, o ensinamento do Iluminado não oferecia uma visão mitológica nem do mundo presente, nem de um mundo do além, e tampouco um credo definido. Foi apresentado como uma terapêutica, um tratamento, um processo de cura espiritual para aqueles que tivessem suficiente vontade de segui-lo. Tudo indica que, pelo menos em sua terminologia, Gautama rompeu com todos os hábitos e costumes populares e com os métodos de instrução religiosa e filosófica, então vigentes.
O grande paradoxo do Budismo é que Buda algum jamais existiu para iluminar o mundo com ensinamentos budistas. A vida e missão de Gautama Sakyamuni é apenas uma incompreensão geral por parte do mundo não iluminado, útil e necessário para guiar o candidato rumo à iluminação, mas a ser descartado quando – e se – a iluminação for alcançada. O monge que falha em se livrar de tais idéias apega-se (por aderir a elas) a ilusão geral e mundana que ele acredita estar tentando abandonar. Porque, em poucas palavras, ao passo que o nirvana (ponto de partida e também de chegada) é encarado como algo diferente do samsara (a estrutura da experiência psíquica), o erro mais elementar sobre a existência ainda deve ser superado. Estas duas idéias refletem atitudes contrárias do indivíduo semiconsciente em relação a si mesmo e a esfera exterior na qual vive; contudo, além deste campo subjetivo, são improcedentes.

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