Vida e Morte na visão da Filosofia Budista


... um ser nada mais é do que uma combinação de forças ou energias físicas e mentais. Aquilo a que chamamos morte é o não funcionamento total do corpo físico.


Será que todas essas forças e energias se detêm inteiramente com o não funcionamento do corpo ?


O Budismo diz que '' Não ''.


A vontade, volição, desejo, sede de existir, de continuar, de cada vez mais se tornar, é uma força tremenda que aciona vidas inteiras, existências inteiras, e que move até mesmo todo o mundo. Trata-se da maior força, da maior energia no mundo. De acordo com o Budismo, essa força não para com o não funcionamento do corpo, que é a mente, mas continua manifestando-se em outra forma, produzindo a re-existência, a que se chama renascimento.


Ora, surge outra pergunta: se não existe entidade permanente e imutável, ou substância assim, como o Eu ou Alma ( atman ), o que é que pode re-existir ou renascer depois da morte ? Antes de irmos à vida depois da morte, examinemos o que seja essa vida e como ela continuará então.


Aquilo a que chamamos vida ... é a combinação dos Cinco Conjuntos ( Panca-Khandha / Skandha ), uma combinação de energias físicas e mentais. Estas se acham constantemente em transformação e não continuam sendo as mesmas por dois momentos consecutivos. A cada momento elas nascem e morrem. '' Quando os Conjuntos se erguem, tombam e morrem, ó bhikkhu, a cada momento tu nasces, decais e morres''. Assim, até mesmo agora durante esta vida, a cada momento nascemos e morremos, mas continuamos. Se pudermos compreender que nesta vida podemos continuar sem uma substância permanente e imutável como o Eu ou Alma, porque não podemos compreender que essas próprias forças podem continuar sem um Eu ou Alma nelas, depois do não funcionamento do corpo ?


Quando este corpo físico não for mais capaz de funcionar, as energias não morrerão com ele, mas continuarão a tomar alguma outra forma, a que chamamos outra vida. Numa criança, todas as faculdades físicas, mentais e intelectuais são ternas e fracas, mas tem em si a potencialidade de produzir um homem adulto. As energias físicas e mentais que constituem o chamado ser tem dentro de si próprias, o poder de adotar uma nova forma, e crescer gradualmente e acumular força até o máximo.


Como não existe substância permanente e imutável, nada passa de um momento para o seguinte. Por isso, é bem óbvio que nada permanente ou imutável possa passar ou transmigrar de uma vida para a seguinte. É uma série que continua ininterrupta, mas muda a cada momento. A série, falando-se realmente, nada mais é do que movimento. É como uma chama que arde toda a noite: não é a mesma chama, nem a outra. Uma criança cresce e se torna um homem que atinge sessenta anos de idade. Certamente o homem não é o mesmo que a criança de sessenta anos antes nem tampouco é outra pessoa. Da mesma forma, uma pessoa que morre aqui e renasce noutro lugar nem é a mesma pessoa nem é outra ( na ca so na ca anno ). É a continuidade da mesma série. A diferença entre morte e nascimento é apenas um momento do pensamento: o último momento de pensamento nesta vida condiciona o primeiro momento de pensamento na chamada vida seguinte, na verdade é a continuidade da mesma série. Durante esta própria vida, também, um momento de pensamento condiciona o momento de pensamento seguinte, de modo que, do ponto de vista budista, a questão da vida após a morte não é um grande mistério, e um budista jamais se preocupa com esse problema.


Enquanto existir esta '' sede '' a ser e a se tornar, o ciclo da continuidade ( samsara ) continua e só pode parar quando sua força impulsionadora, esta '' sede '', for cortada pela sabedoria que vê a Realidade, a Verdade, o Nirvana.

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