Vivemos nos 3 mundos


Os analistas existenciais, distinguem três mundos, isto é, aspectos simultâneos do mundo, que caracterizam a existência de cada um de nós como um ser no mundo.


Primeiramente, existe Umwelt, que significa literalmente “o mundo ao redor”; esse é o mundo biológico, geralmente conhecido em nossos dias por ambiente.


O primeiro, Umwelt, é o mundo dos objetos à nossa volta, o mundo natural. Todos os organismos possuem um Umwelt. Para os animais e seres humanos, o Umwelt, abrange necessidades biológicas, impulsos, instintos – o mundo em que o indivíduo existiria ainda que, hipoteticamente, não tivesse auto-consciência. É o mundo das leis e ciclos naturais, do dormir e acordar, do nascer e morrer, do desejo e do alívio, o mundo da limitação e do determinismo biológico, o “mundo imposto” no qual cada um de nós foi lançado por meio do nascimento e deve, de alguma forma, ajustar-se.


Em seguida há o Mitwelt, literalmente “com o mundo”, o mundo dos seres de um mesmo tipo, o mundo dos semelhantes de uma pessoa.


Mitwelt é o mundo dos inter-relacionamentos entre os seres humanos. Não deve, porém, ser confundido com “a influência do grupo sobre o indivíduo”, ou “a mente coletiva”, ou as diversas formas de “determinismo social”. A qualidade característica de Mitwelt pode ser observada ao notarmos a diferença entre um rebanho de animais e uma comunidade de pessoas. À exceção dos períodos de acasalamento e amamentação, uma ninhada de pastores alemães ou um grupo de crianças agiriam da mesma forma, desde que o ambiente seja mantido constante. Deve-se dizer que os animais possuem um ambiente, enquanto que os seres humanos têm um mundo. A essência do relacionamento é que no contato ambas as pessoas apresentam uma mudança. Desde que os seres humanos envolvidos não estejam demasiado doentes e possuam algum grau de consciência, o relacionamento envolve sempre mútua percepção; e esse já é o processo de serem mutuamente afetados pelo contato.


O terceiro é Eigenwelt, o “mundo próprio”, o mundo do relacionamento consigo mesmo.


Eigenwelt, ou “mundo próprio”, é o modo menos compreendido ou tratado adequadamente na psicologia moderna e na psicologia profunda; na verdade, seria lícito dizer que ele é praticamente ignorado. Também nomeado de autoconsciência, percepção de si mesmo, auto-relacionamento, e está presente unicamente nos seres humanos (embora eu, particularmente duvide que todos os seres não sejam providos deste). Não se trata, no entanto, de uma experiência meramente subjetiva, interior; ao contrário, é a base na qual vemos o mundo real em sua perspectiva verdadeira, a base sobre a qual nos relacionamos. É a percepção do que uma coisa qualquer no mundo – esse buquê de flores, aquela outra pessoa – significa para mim.


Nas línguas orientais como a japonesa, os adjetivos, implicitamente, sempre incluem um sentido de “para mim”. Isso quer dizer que, quando digo “esta flor é linda”, significa que “para mim esta flor é linda”. Já na dicotomia ocidental entre sujeito e objeto nos levou, em contraste, a assumir que dissemos o mais importante ao afirmar que a flor é linda inteiramente separada de nós, como se a afirmação fosse mais verdadeira em proporção à insignificância do que nós tenhamos a ver com o fato! Esquecer o Eigenwelt contribui não somente para uma aridez intelectual e perda da vitalidade como também, obviamente, tem muito a ver com o fato de que as pessoas modernas sejam propensas à perda do senso de realidade em suas experiências.

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