Não importam as divergências de opiniões. Não importam as brigas, os tapas, as ofensas. Nem mesmo as observações maledicentes, as mentiras, as acusações infundadas. Também não importam a corrupção, as trapaças, as “puxadas de tapete”. E, por estranho que possa parecer, nem mesmo os homicídios e suicídios contam alguma coisa. Na verdade, esses aparentes descaminhos fazem parte de um processo dentro do qual inexoravelmente nos envolvemos, uma verdade que paira acima de qualquer ato humano, por mais violento ou indigno que possa parecer. Esse processo chama-se evolução. Tudo no Universo parece correr sob o seu domínio, embora nem mesmo os mais renomados cientistas possam dar certezas sobre processos de evolução existentes em quaisquer outros mundos distantes. Talvez a evolução aconteça – se é que acontece -- seguindo caminhos que desconhecemos. Mas aqui no Planeta Azul, todos caminhamos numa única direção, mesmo que pareçamos, a princípio, nos digladiarmos defendendo caminhos completamente opostos. É a essa direção que chamaremos de crescimento espiritual.
Quando se fala em espiritualidade, qualquer pensamento não consegue avançar muito além do campo das hipóteses, de idéias fundamentais em torno das quais religiões, seitas, rituais e filosofias floresceram. O chamado “espiritualismo ocidental” nasceu no Egito. Os trabalhos de Hermes ditaram as bases de praticamente tudo que conhecemos hoje como religião, em seu sentido direto de religação da humanidade com os planos mais sutis da existência. É dele, por exemplo, o célebre “em cima como é embaixo”, numa alusão à correspondência direta existente entre os processos físicos e espirituais do nosso mundo material e aqueles emanados de um mundo teoricamente perfeito, mais etéreo e fundamental, de onde tudo tenha se originado. A entrada desses conhecimentos no Ocidente deu-se através da Cabala judaica.
Ao analisarmos o conceito de crescimento espiritual, entra-se num campo extremamente perigoso, especialmente em relação às idéias do que esteja envolvido, de fato, num processo de crescimento. Mas pelo menos três afirmações podem ser feitas com relativa certeza: trata-se de um processo lento (para nós, humanos), contínuo (apesar da possibilidade de que seja alcançado em “saltos” de consciência) e unidirecional (só se cresce espiritualmente para melhor, pois não existe a involução). Crescer espiritualmente significa seguir um caminho de refinamento na qualidade das nossas ações e dos nossos pensamentos.
Esse refinamento está baseado justamente em nossas reações a tudo que nos acontece. Não se vincula a resultados que possamos alcançar, mas à maneira com que nos lançamos na busca desses resultados. A evolução não reside no “o que”, mas no “como”. E isso faz toda a diferença. É por isso que qualquer crescimento não está nem de longe associado à obrigação de estarmos atrelados a qualquer espécie de religião ou filosofia. Trata-se de algo muito superior à religião. Trata-se simplesmente de ética.
Ser profissionalmente bem-sucedido não significa, de forma alguma, que se conseguiu uma evolução maior do que aquele que não foi além de um modesto emprego. Ter conseguido uma união estável, trocar de carro anualmente ou ter uma bela casa na praia também não se constituem em sinais de que se alcançou um estágio superior de vida. O que importa realmente é o perfeito casamento entre a intenção de agir e o modo de se agir para que essa intenção saia do papel. A maioria das pessoas erra justamente nesse último, ou seja, nessa espécie de know how para se viabilizar uma intenção. Mas estamos a caminho de aprender. Assim como o vir-a-ser de uma gigantesca árvore se encontra, desde o início, contido numa semente, também o homem do futuro já se encontra, embrionário, desenvolvendo-se no interior de cada um.
Quando se fala em “espiritual”, entra-se em um mundo onde vários dos comportamentos a que estamos acostumados a classificar como “virtuosos” – como, por exemplo, a lealdade e a bondade – adquirem valores estritamente pessoais. Não são, em hipótese alguma, conceitos universais.
São apenas conceitos morais. Por mais importância que possamos dar a eles – e possuem, de fato, sua importância – não fazem parte da nossa essência. Não somos essencialmente “bons” ou “leais”. Na verdade, simplesmente somos. E isso já é muito. Julgamentos pertencem ainda ao plano da humanidade. Nossa essência, ao contrário, está bem acima de tudo isso.
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